O Dia começou com uma pequena chuva. Essa chuvinha me fez lembrar a época em que eu, juntamente com o meu saudoso pai(Vavá) e toda a nossa família pegávamos nossa canoa e remávamos até o Porto do Macapazinho,onde tínhamos que plantar nosso roçado.
No embarque na canoa, a risada era boa, principalmente por que minha tia, chamada de Vitória não permitia de jeito algum que alguém subisse na canoa com os pés sujos de lama. Começava aí uma sessão de esculhambos, pois para as minhas irmãs era mais difícil lavar os pés na ponta da canoa.
Viagem de quase uma hora a favor da maré, todos nós de chapéus, caladinhos na canoa, ouvindo histórias de meu tio Zé Araújo e do Papai, pequeno não se mete na conversa de adultos. Minha função era pegar uma cuia e ficar tirando água da canoa pelos buracos que não foram calafetados.
No Porto, com a maré cheia,tudo de bom, com maré seca, situação complicada, tínhamos que meter o pé na lama e driblar as pedras com caraca e os miquins. Difícil mesmo era subir uma rampa no Porto do Macapazinho.
Pra chegarmos até o rancho ou da tia Vitória ou da Tia Hilda, tínhamos que percorrer mais de um quilômetro. Todo mundo com bagagem. E as mutucas? Pega um galho e vai batendo tuas pernas, dizia meu saudoso pai, que Deus o tenho em bom lugar.
Passávamos por dois riachos, ponto certo para tomar uma água e caminhar. Na chegada do rancho, coisa boa nos esperava, um poderoso café e aquele "beiju" ou "biju". Aí, meu amigo, cada um se agarrava com seu pedaço. No rancho da tia Vitória ficava uma antiga canoa que servia de girau. Uma mangueira saciava nossa fome quando chegávamos do roçado, quase 6 tarefas pra plantar. O Parazão, meu irmão mais velho, já mais maduro que eu, olhava o estirão e preferia dizer que estava com dor de barriga e ir pro mato.
Na hora do almoço, aquele feijão preto, cozinhado na lenha, aquela panela preta e o borbulho do charque e do mocotó, deixava homens e mulheres a ponto de bala quando fosse dado o apito do almoço. Quando era dado a ordem de ataque, cada um pega seu prato e se arruma. Nessa hora começava a sacanagem, no bom sentido.
Uma prima minha, chamada de "Moriu" iniciava uma brincadeira chamada de "intrudo". Ô brincadeira, já que ninguém ficava com a cara limpa, ela passava a mão na pretura que ficava na panela que cozinhava o feijão ou em madeiras que foram queimadas e começava a correr atrás das pessoas lamb uzando suas caras com a pretura. Minha mãe(Norma) era uma predileta da Moriu. Aqueles mais metidos a besta corriam léguas para não ficarem sujos.
Hora do batente novamente. Duas horas, vamos terminar mais quatro tarefas. Agora é a hora do vinho e da boa cachaça para quem gosta. Quando estávamos matando o "rabo da cobra" a comemoração era boa por todos. Peguem as enxadas e os facões e vamos embora pra casa.
Todo mundo cansado e ainda tínhamos que caminhar novamente quase um quilômetro de volta. Reprisando a mesma ladainha, não pode sujar a canoa, lava os pés, etc, etc. Na chegada, no Porto da Emater ou do Seu Juca, bem próximo a Casa Sereia, já em Salinas, a certeza que plantamos nossa mandioca, o arroz, o feijão. Agora era o tempo de esperar para colher.
Essa pequena história dedico a todos os agricultores de nossa querida Salinópolis, pois eles são incansáveis, no sol, na chuva lá eles estão plantando para saciarmos nossa fome.
Dedico também, ao meu velho e saudoso pai(Osvaldo do Nascimento, popularmente conhecido por Vavá. A minha tia Vitória, ao meu Tio "Zéraújo", como era chamado. Eles foram embora, mas as recordações e o seus ensinamentos ficaram.
E aproveito essa ferramenta tão importante que é o facebook para transmitir essa história de quem viveu esse momento e aprendeu muito com a vida interiorana.
Um abraço a todos.
Professor Otávio.